terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os guardiões de kiara parte 21- por Camila Bernardini




Thorn e Juliano afastavam-se cada vez mais por entre a trilha. No caminho o cenário era belo para ser apreciado a luz do sol, coisa que nenhum dos dois poderiam mais fazer. As flores cobriam todas as árvores, eram pequenas e de várias cores e tamanhos.
- Aonde vamos?
- Quando chegou aqui em carpen, Merlin leu seus pensamentos e sabia onde queria vir. Talvez estando lá seja mais fácil para que suas lembranças voltem.
Mais alguns minutos pararam de frente para uma enorme caverna. Sua entrada estava coberta de plantas tornando-a quase invisível. Juliano seguiu para dentro. Não havia luz os iluminando ali. Thorn conseguia ouvir o barulho de água caindo, deduziu que a outra entrada poderia ser coberta por uma cachoeira.
- Juliano deu os anéis e pediu que ela os segurasse.
Thor os segurou firme na mão. Sabia que naqueles dois pequenos objetos estava a resposta do seu passado. Juliano encostou a mão em sua testa e disse:
-Irá doer um pouco, me desculpe.
Antes que ela pudesse responder sentiu as presas do vampiro perfurar seu jugular. A dor era intensa. Mas não era uma dor comum, era prazerosa. Diferente. A mesma que sentia quando Simona a mordia. Simona... A mente de Thorn estava confusa cheia de cenas desconexas vindo e voltando. A espada que ganhará de aniversário, Jade, o castelo de Abraxas, o passeio na praia com Phauno. As malekes. Kiara. O talismã. À noite na cabana com Simona, a amizade forte com Jasmine. Thorn então desmaiou. Permaneceu assim por algum tempo, até que recobrou os sentidos. Ao abrir os olhos viu Juliano a olhando.
- Eu me lembrei de tudo.
- Lembrou do que veio buscar aqui?
- O livro das sombras para saber para que servem os anéis.
- Thorn o livro está dentro dessa caverna. E somos nós os Godos que os protegemos. Peço que o veja, mas não o retire daqui como pretendia.
- Mas vocês...?
- Por isso as lendas terríveis a nosso respeito. Para que as pessoas temam e não busquem o conhecimento que estamos a anos protegendo.
- Prometo que deixarei aqui!
- Não se depender de mim- Phauno achou um jeito de fugir, enquanto jasmine tentava apaziguar mais uma discussão de Umberto e Simona.
- O que está fazendo aqui Phauno?
- Quero os anéis e o livro!
- Pensei que você havia mudado.
- Minha querida eu tentei... Mas o poder é um convite em aberto que me faz esquecer que tenho que ser bom.
- Você é um monstro!
- Sou menos que você que agora é uma vampira.
- Não irei te dar os anéis.
- Terei que te matar então!
Juliano disse:
- Antes de matá-la terá que matar a mim.
- Será um prazer.
Phauno com uma agilidade fora do comum retirou da mochila que carregava nas costas a retirou a espada de Thorn desferindo um gole certeiro no pescoço do vampiro.
- Nãooo!
Era tarde, o corpo e a cabeça de Juliano estavam separados e o vampiro tombava morto ao chão.
Lágrimas vieram aos olhos da fada- vampira.
- Onde conseguiu minha espada?
- Aprenda uma lição nunca deixe suas coisas jogadas por aí. Achei atrás de uma árvore. Vai me dar os anéis e os livros?
- Não sem lutar.
- Não quero machucá-la.
Thorn correu para o fundo da caverna. Quanto mais escuro tivesse, mas vantagem teria sobre Phauno, que tinha apenas a visão de um humano. Tentava por um plano em mente para conseguir derrotá-lo. Colou cada um dos anéis em uma das mãos nos dedos indicadores. Fechou os olhos para pensar e ouviu uma voz. Parecia a voz de um velho:
- Tome a espada dele e o mate.
A fada- vampira se assustou com a voz. Não queria matar Phauno, apenas imobilizá-lo. Escutou quando ele se aproximou estando há apenas alguns passos de distância. Surpreendeu, pois uma forte luz azul iluminou o local. A luz vinha dela mesma e apenas não conseguia controlar.
- Oras só! Está ai então? O que pretende Thorn? Destruir-me com essa luz?
Ela ficou imóvel, muda, incapaz de respondê-lo. Viu quando Phauno levantou mais uma vez a espada e preparava-se para golpeá-la. A espada, porém escorregou das mãos deles ferindo-há apenas um pouco no braço. Thorn usou de sua agilidade para alcançar a espada. Segurou-a firme enquanto a voz falava novamente com ela:
- Mate-o.
Sabia que seria incapaz de matá-lo. Viu que ele vinha mais uma vez em sua direção. Notou seus olhos que brilhavam intensamente mais do que o costume. Sentiu uma forte repulsa.
- Thorn, Mestre!
Reconheceu a voz de Merlin.
- Aqui!
Phauno a esmurrou, derrubando-a ao chão e recuperando posse da espada. Não foi rápido o bastante para que Merlin não visse a cena.
- O que está acontecendo aqui? Cadê o Juliano?
- Phauno o matou e quer me matar! Fuja daqui, antes que ele tenta matá-lo também.
- Como ousa matar nosso Mestre em nosso território?
Phauno tentou em vão golpeá-lo. Merlin tinha bons reflexos e se desviou. Arrancando a espada da mão do humano insolente que acabará de dar a si mesmo sua sentença de morte. Merlin o segurou com força e gritou:
- Vou levá-lo aos outros do clã. Eles decidiram o que fazer! Thorn precisa de ajuda?
- Daqui a instantes desço!
- Olha quando a vi pela primeira vez eu sabia o que procurava. Vou deixá-la sozinha. Espero que encontre o que deseja e saia! Leve seus amigos daqui, antes que eu mate todos!
Merlin correu desaparecendo. Thorn ficou sozinha na caverna. Sua pele arrepiou. Não tinha já tanta certeza se devia ler ou não o livro, mesmo assim decidiu procurá-lo. Tentaria ser o mais breve possível. Os guardiões de kiara já haviam perdido tempo de mais. Precisavam recuperar o talismã e mais do que nunca preservar os segredos do mundo paralelo em que viviam.

Os guardiões de kiara parte 20 - por Camila Bernardini


- Faz quase um mês que Thorn não retorna Jasmine. Temos que encontrá-la- Simona gritava como um louco tentando convencer de que podia ter acontecido algo de grave a guardiã líder.
- Simona caso ela ainda não tenha feito o que tinha que fazer, irá se sentir traída por eu levá-los até ela.
- E se ela realmente estiver precisando de ajuda? – Era Umberto que falava.
- Agora concorda comigo? Engraçado, pensei que bolas de pelo não concordassem com vampiros.
- È que vampiros nunca costumam ter razão sobre nada. Mas a questão aqui não é você. Deixe seu egoísmo de lado e vamos nos concentrar em Thorn.
- Egoísta?
- Sim, eu concordei que precisamos procurá-la e você fica ai pensando em uma forma de me atingir.
- Chega os dois!
- Ele começou- Disse Simona.
- Não me importa quem tenha começado. Acho que vocês estão bem grandinhos para que fiquem o tempo todo querendo mostrar quem é o melhor. Onde está a união que Kiara tanto nos pediu?
- Jasmine tem razão Simona. Vamos deixar isso para depois.
- Mini você tem que nos levar até ela. Sinto muita a falta de Thorn e estou com medo do que pode haver acontecido. Ela poderia pelo menos nos dar noticias não?
- Não sei...
Phauno que até aquele momento assistia a conversa em silêncio, lembrou que o anel muito bem poderia estar com Thor e queria logo tê-los em mãos.
- Concordo com os dois, devemos ir.
- Onde ela foi Mini?
-Para a floresta Carpen
- O que? – Simona ficou mais furioso ainda do que já estava. Como Thorn poderia ir sozinha para lá? E que diabos ela tinha que fazer em um lugar como aqueles? Estremeceu de pensar na idéia de que um dos Godos podia machucá-la.
Abriu a porta da cabana e já ia correr quando Jasmine gritou:
- Aonde vai Simona?
- Buscá-la agora mesmo!
- Deixe de ser impulsivo. Já que não tem outro jeito iremos todos juntos.
Os quatro se reuniram para partir. Começaram a caminhada quando viram uma forte luz e logo Kiara a frente deles.
- Meus guardiões cada dia estou mais enfraquecida sem meus poderes.
- Kiara nos desculpa. Thorn foi à busca de algo pessoal e acabou atrasando nossa verdadeira busca.
- Não me peça desculpa Jasmine. Não estou chateada com vocês por isso. E sim pela desunião. Quando não estão unidos, em sintonia os poderes de todos enfraquecem. Não podem vencer sem estarem juntos.
- Eu disse que devíamos ter ido atrás de Thorn desde o começo. – Simona respondeu com ar de que os outros deviam tê-lo escutado.
-Não Simona, Thorn precisava desse tempo sozinha. Quando os corações e as mentes de vocês estão ligadas, mesmo que estejam a distâncias enormes um dos outros, ainda assim permanecerão unidos. Mas quando mesmo a menos de centímetros juntos não se sentem bem na presença um do outro é por que algo vai errado.
- Quer dizer que devemos nos amar? – Umberto disse em tom frio e impessoal. Achando impossível sentir uma ligação com aquele vampiro. Ainda não entendia como Thorn podia amá-lo. Um pequeno sorriso disfarçado brotou de seu rosto. Vai ver que ela tinha cansado dele e fugiu. Não queria que eles a encontrassem. Vai ver nem estava na floresta do Godos.
- Somente quando acontecer novamente vocês vão saber do que estou falando Umberto.
- Thorn está bem Kiara? – Jasmine perguntou.
- Acho que vocês devem ir até ela.
- Ela precisa de nossa ajuda ou nos abandonou?
-Phauno, tenho certeza que Thorn já se mostrou ma ótima líder e nunca deixou nenhum de vocês para trás. Só com um motivo forte ela os esqueceria. E não por livre e espontânea vontade.
- O que quer dizer? – Simona perguntou desesperado.
Kiara desapareceu deixando a pergunta do vampiro sem resposta alguma. Jasmine abaixou a cabeça e já tinha a resposta. Thorn fora hipnotizada por algum dos Godos para que esquecesse o passado e permanecesse junto com eles. Seria difícil trazê-la de volta, mas teriam que tentar.

Os guardiões de kiara parte 19 - por Camila Bernardini




Thorn antes de partir por alguns dias chamou Jasmine de canto entregando a ela os anéis que surgiram ao despertarem o poder de tankanoreque. Não sabia ainda para que serviria o anel, mas estava com medo que eles caíssem em mãos erradas ou que o desejo de algum deles do grupo fossem tão fortes a ponto de fazer alguma loucura para obtê-los. Ela mesma toda vez que olhava para eles, sentia uma forte atração e um desejo inimaginável de possuí-los para seu uso próprio. Confidencio também a ela o motivo de sua viagem e pediu que todos os outros por enquanto não soubessem. Jasmine a compreendeu e prometeu cuidar de tudo enquanto fosse necessário que Thorn estivesse fora.
Thorn não pretendia ficar muito tempo longe. Ela queria mesmo um tempo livre, pois sabia que algo de estranho vinha acontecendo na personalidade dela. Era certo que as fadas mudavam de humor com freqüência, mas o dela parecia uma dinamite pronta a explodir. Tinha que se controlar ao máximo para não machucar ninguém com palavras que vinham o tempo todo a tona em seus pensamentos. Sentia-se confusa com Simona e triste por ele ter escondido a sua doença dela. Se ele não houvesse mentindo dizendo que estava tudo bem, muita confusão teria sido evitada. E ela não precisaria revelar segredos de Kiara na frente de todos para tentar salvá-lo. Não contou a ele que se ficou furiosa por isso. Na verdade não contou para ninguém que sua mente estava confusa. Ficou com medo dos outros guardiões acharem que ela estava perdendo a coragem e de que com isso eles ficassem com medo de nunca mais conseguir recuperarem o talismã. Pensava no que Jade estava tramando e qual era o verdadeiro intuito dela querer os poderes de uma Deusa. Sabia que o tempo podia se esgotar a qualquer momento e que logo talvez a busca deles fossem em vão, que seria tarde. Chorou, as lágrimas varreram um pouco da sua angústia, deixando à vazia. Nem percebeu que o sol havia se posto e que tinha voado durante horas. Não se sentia cansada, mas sabia que precisava dormir. Olhou para o chão, a imensidão da floresta Carpen, a assustou. Era ali o seu destino, pensou que levaria mais de um dia para chegar. Já estava ali e agora sentia medo do que encontraria pela frente. Silenciosamente pousou ao chão, com os olhos e ouvidos bem atentos, pronta para qualquer surpresa desagradável.
Carpen era uma das montanhas mais afastadas de Peruíbe, quase ninguém ia ali, pelo menos nenhuma das pessoas que conheciam suas lendas. Diziam que ali viviam muitos Godos, uma espécie de vampiros muito raros. Se a existência deles realmente fosse reais era a linhagem mais antiga de anciões vivendo na terra. Conta que eles conseguiam transformar qualquer outro ser em escravos apenas com o olhar. Assim tinham muitos humanos por perto para quando necessitassem se alimentarem. Alguns deles adquiririam o poder de qualquer outro ser místico quando provava do sangue. Sendo assim ninguém os desafiava e evitavam andar pelas redondezas dessa montanha. Thorn fora ali procurar algo além de vampiros, e sim uma caverna. Uma caverna na qual encontraria á resposta para os anéis. E só assim saberia decidir com certeza o que faria com eles. Dentro dessa caverna encontrava-se o livro das sombras escrito pelos ex guardiões de Kiara, que os esconderam para que ninguém mais pudesse ter o conhecimento de quão forte poderia ser os poderes e segredos da Deusa. Nem mesmo Kiara sabia com precisão tudo que estava escrito ali. Thorn só não sabia o que enfrentaria para poder pegar o livro em mãos. Imaginou que ele estaria muito bem protegido. Deslizou sua mão direita na bainha da espada que ganhara de Jasmine, a trouxe consigo para eventuais lutas.
A fada afastou os pensamentos e preocupações decidindo encontrar um lugar para descansar. Seria mais seguro se aventurar pela floresta a luz do dia. Não precisou caminhar muito para encontrar um lugar cheio de pedras, quase parecido com uma gruta. Decidiu deitar por ali mesmo e descansar.
Havia passado apenas duas horas desde que Thorn fechara os olhos para dormir, quando foi despertada por um intenso barulho que a assustou. Abriu os olhos atenta e levantou-se tão rápido que quase perdeu o equilíbrio. Viu um forte clarão em volta dela, e quando deu por si havia um homem na sua frente. Foi tão rápido o surgimento dele que a assustou. Ela o olhou, era alto, de uma pele tão branca que quase era transparente. Um vampiro. Era só isso que aquele estranho poderia ser. Thorn estremeceu. Não tinha medo de Simona por que o conhecia e de qualquer forma eram guardiões, podiam viver juntos. Mesmo que não tivessem se apaixonado essa era a sina, que caminhassem junto. Mas esse era diferente, cheio de histórias sombrias e de lendas que não tinha como ela saber se eram verdades ou não. Tentou não olhar diretamente aos olhos dele, afinal era sim que eles escravizavam, apenas com um olhar não era?
O vampiro riu. Certo estava de ler os pensamentos daquela fada. Achou-a muito corajosa de estar à noite, dormindo só naquela parte da floresta. Isso foi o que despertou mais a curiosidade dele. Sentia que a fada procurava algo de muito importante. Fora fácil encontrá-la ali, já que sentia o cheiro de outros da sua espécie. Enquanto caminhava com alguns de seu clã, sentiu o cheiro de outro vampiro e ficou curioso. Sem que os outros percebessem, saiu da trilha e foi em direção ao cheiro. Ficou surpreso ao ver que era uma fada. Uma fada-vampiro. Nunca ouvira falar nisso. Mas pelo que constava era isso mesmo. Só que ela ainda estava em fase de transformação. Enquanto observava o pequeno e diferente ser a sua frente, viu que uma árvore caía com um clarão de um raio. Mas um fato estranho, pois não chovia e não tinha sinal algum de tempestade. Olhou novamente para a fada e viu que ela acordava. Ficou com medo da reação dela, já que pessoas em transformação geralmente eram agressivas e atacavam tudo pela frente. Imagine uma fada então, que eram conhecidas pelo seu gênio indomável.
- Olá pequena. Qual seu nome?
- Thorn e o seu? – Ela responde rispidamente, ainda desconfiada da intenção do vampiro.
-Merlin. O que faz por aqui Thorn?
- Gosto de conhecer lugares novos.
- Está na cara que esta mentindo, mas por que confiaria em mim um vampiro? Ainda mais com todas as lendas que temos por aqui não é mesmo?
Merlin gargalhou muito, enquanto vasculhava os pensamentos dela. Já que a fada não fazia nada de importante. Não teria pressa de voltar para onde quer que tivesse que voltar. Seria bom tê-la no grupo e vê-la se transformar. Aproximou-se dela, pegando seu rosto entre as mãos. Os olhos dos dois se cruzaram por apenas segundos, tempo suficiente para que ela sentisse uma leve tontura e desmaiasse. O vampiro a pegou no colo e levou para que os outros pudessem vê-la.
Diego foi o primeiro a ver Merlin chegar com uma fada no colo. Ficou irado. Por que ele traria uma fada ali? E o que tinha feito com ela? Pelo visto queria que todos ali continuassem dando crédito aos boatos que corriam os quatro cantos do mundo.
- O que é isso Merlin?
- Oi! Bonita não é? È alguém diferente de mais para que eu não quisesse para mim.
- Só por ela ser uma fada não quer dizer que é tão diferente e por isso seja posse sua.
- Acho que esta errado.
- Então vai começar a colecionar seres místicos. Acho que Kiara não irá gostar.
- Ela é mais que uma fada.
- Ah sim, é! Estou vendo que ela tem presas e é uma sugadora de sangue.
- Ainda não. Mais vai ser.
- Você quer transformar uma fada em vampira?
- Eu não, alguém já fez isso.
- Como?
- Alguém andou tomando sangue da fadinha...
Diego ia fazer mais perguntas, quando notou que a fada estava de olhos abertos, e pela confusão em seus olhos notou que Merlin havia hipnotizado.
Thorn olhava para os dois confusa. Merlin a colocou no chão sem saber muito bem o que fazer. No fim já não sabia se tinha sido uma boa idéia trazê-la. A fada começou a estremecer.
- Esta com frio? – Diego perguntou.
- Um pouco.
Ele tiro seu enorme sobretudo preto e aveludado e deu para que ela vestisse. As mãos dos dois se tocaram e percebeu o quanto ela estava quente. Tinha febre. Ele ficou preocupado, embora nem a conhecesse, percebeu que era ao mesmo tempo uma pessoa frágil e forte. Era isso que transparecia em sua aura. Ficou chocado. Como alguém poderia transformá-la em vampira, mudando tanto assim sua natureza?
- Obrigada pelo casaco.
- Vi que os dois se deram bem. Vou terminar o que comecei na floresta. Já volto – Merlin falou um pouco irritado e já com ciúmes da sua descoberta estar dando mais atenção ao outro.
-Vai trazer o que agora? Um elfo? – Diego disse ironicamente.
Merlin não respondeu e com velocidade sai do campo de visão dos dois.
- Lembra seu nome?
- Não me lembro...e o seu?
- Diego. Não lembra nem o que veio fazer aqui?
- Não. Você sabe quem eu sou?
- Não, mas posso tentar ajudá-la a descobrir.
- Mas como?
- Por hipnose.
Thorn sorriu a ele. Sentiu confiança e ficou grata por ter alguém querer ajuda - lá. Já que não lembrava nada antes de acordar no do outro que acabara de sair. Ficou com medo, porém de tentar a hipnose e lembrar algo ruim. Não fazia idéia, vai que seu passado fosse obscuro, além do mais sentia um cansaço fora do normal. E o frio aumenta cada vez mais, a pele do seu corpo eriçava. Sua visão estava turva e sentiu que logo desmaiaria. Fechou os olhos e imagens estranhas e desconexas vieram a sua cabeça.
Um vampiro, uma bruxa e um lobisomm estavam sentados em volta de uma fogueira. O vampiro e o lobisomem pareciam discutir, enquanto a bruxa tentava acalmá-los. Uma voz então veio em sua mente como súplica: “Volte logo Thorn”.
Thorn desmaiou. Diego ao perceber o que acontecia conseguiu a tempo segurá-la para que não acabasse indo ao chão e se machucasse. Nunca vira uma fada antes, não sabia como proceder. Se fosse humana era só da um pouco de seu sangue a ela. Mas nesse caso estava paralisado sem respostas. Sentiu raiva da pessoa que fez aquilo. Um medo súbito de que ela morresse ali em seus braços fez com que agisse. Segurou-a firme no colo e a levou com toda a velocidade que pode a uma pequena e escura gruta bem ao fundo do coração daquela montanha. Antes que pudesse chamar que habitava aquele lugar, ouviu a voz:
- Entre depressa!
Dentro da gruta algumas velas iluminavam o lugar pequeno mais confortante.
- Olá Mestre!
- Coloque-a sobre aquelas almofadas.
Quem falava era Juliano, o vampiro mais antigo dos Godos. Muitos acreditavam que ele havia formado o clã. Era sábio, falava pouco e mal convivia com os outros. Juliana após anos de existência aprendera que a solidão era um mal necessário para encontrarmos o que realmente importava na sua vida. Pouco antes de Merlin encontrar Thorn dormindo, ele havia escutado o coração angustiado da fada que acabará de chegar. Sabia que além do que havia vindo buscar, essa viagem sozinha era para poder se encontrar e ter certeza do que realmente queria. Admirável alguém tomar essa atitude. Estar só geralmente faz com que tenhamos um real e verdadeiro tempo para pensarmos sem alguém interferir em nossas decisões. Ficou furioso ao ver que Merlin tinha utilizado seus poderes querendo transformá-la em um quase bichinho de estimação. Confessava que ficou surpreso ao ver que a curiosidade do vampiro era normal, quando sentiu que ela estava a passos de se tornar uma vampira. Fada vampira. Em mil anos de existência nunca ouvira falar em nada parecido. Quando leu os pensamentos de Diego e viu que ela queimava em febre preocupou-se, queria mantê-la viva.
- O que devemos fazer?
- Ela precisa de sangue. Se quiser eu posso doar um pouco do meu.
- Não Mestre! Deixe que eu dê meu sangue a ela.
- Você corre o risco do vampiro que estava tentando transformá-la ficar furioso.
- Correrei o risco. Não podemos deixá-la morrer. A pessoa que fez isso não se importou com o que aconteceria a ela, caso contrário não a deixaria sozinha.
- Não julgue as pessoas antes de saber quais são suas reais atitudes.
- Mas isso é tão evidente.
- Nem tudo é o que parece ser.
Diego ficou calado. Poderiam ter essa conversa em outra hora, o importante agora seria salvar a fada. Ajoelhou-se no chão, pensando em como faria isso. Lembrou de suas unhas afiadas e fortes e passou-as em um de seus pulsos até formar um corte não fundo, mas o bastante para que filetes de sangue começassem a escorrer. Se fosse verdade que ela já tinha presas apenas essa corte seria necessário para que ela se alimentasse.
Encostou gentilmente seu pulso aos lábios dela. Thorn inconsciente ainda sentiu um gosto meio salgado tocar seus lábios, mas ao mesmo tempo um gosto tão prazeroso que parecia dar vida a ela. Uma corrente de energia começou a fluir do seu corpo, nem percebeu que estava desperta e que seus dentes afiados estavam cravados no pulso de um vampiro. Teve uma nova visão.
- Simona!- sussurrou baixinho enquanto lágrimas rolavam ao rosto. Não sabia o porquê esse nome causava tristeza a ela. Isso a angustiou e fez com que o choro aumentasse consideravelmente.
Diego delicadamente tirou o pulso de seus lábios e deitou ali do lado dela. Quem se sentia fraco agora era ele. Embora quisesse fazer muitas perguntas, adormeceu incapaz de dizer uma única palavra.